Bem fazer o Bem

                                                   Xilogravura: Bonifacio Feitosa


Por: Cristina H. Rocha

Atualmente há grande visibilidade de grupos e pessoas  que trabalham na intenção de fazer o bem.  Entretanto, ajudar as pessoas não é tão simples quanto parece. Vamos refletir sobre esse assunto?

A motivação
"A prática do bem leva a pessoa a alcançar evolução espiritual, conquistar uma boa situação no pós-morte ou em vidas futuras." Que tal analisar esse pressuposto?
Se a sua intenção ao fazer o bem está baseada nas questões acima, significa que o foco do benefício é você mesmo.  É uma ação fundamentada na troca. Alguns dizem: tudo na vida é uma troca. Porém, se a intenção é a troca, então seria a vida uma relação de negócios espirituais e materiais?  É preciso analisar também se a prática da caridade não está relacionada a um sentimento de culpa. Vou compensar o mal que fiz fazendo o bem. Da mesma forma, o foco está em receber algo para si. Tente isso: vou buscar minha iluminação interior, para mudar meus paradigmas, descobrir uma outra forma de agir na vida, e assim vou beneficiar os que amo e o mundo que alcanço.  O bem. tem a ver com semear, cuidar e seguir em frente sem ansiedade pela colheita, com a mente e o coração no agora. É abrir os canais da fonte do amor possível, que espontaneamente se junta a outros veios, córregos formando rios até chegar ao mar do amor incondicional. Talvez fazer o bem não seja mais do que tornar-se passagem das bençãos materiais e divinas para alguém.

Estender a mão
Há uma diferença bem grande entre estender a mão para que o outro apoie e saia do abismo e se jogar no abismo junto com a pessoa para tentar salvá-la. Quando queremos ajudar alguém, algumas vezes nos colocamos em posição de resolver o problema  da pessoa, ao nosso modo. Analisamos a vida do outro pela nossa referência, projetamos necessidades e sentimentos que geralmente não correspondem à sua realidade. Nossa ação está algumas vezes ligada aos nossos pré-conceitos de bem, mal, merecimento, entre outros. `Por exemplo: será que estamos olhando o outro como “coitado”?  Neste caso, acabamos por anular a potência e o poder de decisão da pessoa. Teremos uma atitude invasiva, que pode contribuir para manter a mesma situação que desejamos mudar e ainda estabelecer relação de dependência. Essa dependência pode gerar a ilusão de que somos bons. Mas na verdade construímos uma relação doentia que leva à estagnação.

Dicas simples
  •       Antes de fazer qualquer coisa pelo outro pergunte-lhe: você quer que eu faça isso?
  • ·        Nunca se dirija à pessoa dizendo: faça isso, faça aquilo. É como se dissesse: eu sei o que é melhor para você. Além disso a pessoa pode ver você como responsável pelo resultado daquela ação. O melhor é ouvir. Mostrar-se disponível.  Se necessário sugerir alguma coisa, nunca direcionar as escolhas que cabem somente à pessoa.
  • ·        Se possível colabore para que as pessoas próximas  desenvolvam a autonomia, os talentos, a autoestima e a autoconfiança.
  •      Acolha, abrace e permaneça ao lado das pessoas que passam por perdas e situações difíceis. Não se aproveite do momento para fazer conversão da pessoa a qualquer crença.  Se a pessoa estiver aberta para  uma conversa filosófica ou religiosa, aguarde o momento agudo passar. Porém, tenha em mente  que é um diálogo de não a exposição / imposição de UMA verdade. Na hora da dor mais intensa, é a presença que lhe  aquecerá a alma.
  •      Se desejar participar de um trabalho voluntário, seja constante. A presença irregular, sem compromisso prejudica o trabalho do grupo todo. Amor, dedicação e compromisso. Ou aguarde outro momento mais propício para participar.
Assessoria espiritual e evolução
Às vezes, por pertencer a projetos que ajudam a mudar a realidade de muita gente, acreditamos que evoluiremos muito. Deste ponto de vista, a evolução está ligada à quantidade pessoas que ajudamos. A prática do bem pode conquistar assessoria espiritual para quem a realiza. Ou seja, atrai: a gratidão das pessoas, o carinho dos amigos espirituais dos atingidos pela ação beneficente, o amor por aquele que ajudou.  Esse contexto forma um campo energético que nos defende e atua em nosso favor de diversas formas. Mas nada disso substitui a iluminação interior. A luz de fora não se transporta para dentro automaticamente. A iluminação do espirito acontece aos poucos, por meio trabalho de autoconhecimento; pelo desenvolvimento do amor, da capacidade de compreender e respeitar a vida; da conexão profunda com o divino que pulsa em cada ser. Na distração da sociedade materialista em que vivemos, o bem se faz mais necessário que nunca. Mas a sabedoria e o amor generosamente compartilhados é que promovem a  transformação.

Fazer o bem, sempre. Não por medo da outra vida, não para amenizar a culpa, não como uma troca, não como uma invasão nas escolhas alheias. . Mas para levar graças e alegria por onde passe, por sentir compaixão (não pena), por e repeito às pessoas,e à natureza, por um sincero impulso da alma e do coração. Por amor, enfim. Assim brilha a sua luz.. 


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