O mal invisível


Calúnia é uma afirmação falsa e desonrosa a respeito de alguém, inclusive mortos. Consiste em atribuir, falsamente, a alguém a responsabilidade pela prática de um fato determinado definido como crime, feita com má-fé. Pode ser feita verbalmente, de forma escrita, por representação gráfica ou internet.
Difamação é um termo jurídico que consiste em atribuir a alguém fato determinado ofensivo à sua reputação, honra objetiva, e se consuma, quando um terceiro toma conhecimento do fato. De imputação ofensiva que atenta contra a honra e a reputação de alguém, com a intenção de torná-lo passível de descrédito na opinião pública. A difamação fere a moral da vítima, a injúria atinge seu moral, seu ânimo. 
Injúria do latim injuria, de in + jus = injustiça, falsidade. Consiste em atribuir a alguém qualidade negativa, que ofenda sua honra, dignidade ou decoro. É um crime que consiste em ofender verbalmente, por escrito ou até fisicamente (injúria real), a dignidade ou o decoro de alguém, ofendendo a moral, abatendo o ânimo da vítima. (fonte: wikipédia)


A calúnia, a difamação e a injúria são crimes da "língua". A linguagem posta a serviço da má-fé,  para prejudicar,  desacreditar e destruir uma pessoa ou instituição.  São atitudes com grande poder de destruição. Muitas vezes, não sabemos quem ou por que inicia, mas atuam como um rastilho de pólvora, incendiando por onde passam. Mas para o articulador do mal, há sérias consequências do ponto de vista psicológico, social e espiritual. Geralmente motivadas pela inveja ou pelo desejo de poder, a calúnia, a difamação ou a injúria tranformam-se em "maldição" pelo mal dito. Muitas vezes, passam a ser consideradas como verdade por grande parte das pessoas envolvidas, já que geralmente são sustentadas em argumentos  manipulados para que pareçam razoáveis ou se apresentem  carregadas de expressões enfáticas, visando causar impacto emocional. Mas a má palavra, uma vez expressa, acompanha o seu autor como uma sombra, e como o espírito é imortal, a consequência é fatal. Coloco abaixo uma mensagem do livro "Vozes do grande além", que é composto de mensagens recebidas pela psicofonia, através de Chico Xavier. Retrata o drama real de A. Ferreira, que destruiu sua  vida, usando como arma a língua. Essas dores podem ser evitadas enquanto estamos (con)vivendo na Terra.

[...]Sou uma das vítimas da língua, não conforme acontece na existência humana, em que os caluniados caem na Terra para se erguerem no Céu, em sublime triunfo, mas, segundo os padrões da vida real, em que os caluniadores que triunfaram entre os homens experimentam, além, do sepulcro, a extrema derrota do espírito.

Há quase trinta anos, nossa família, chefiada por pequeno comerciante, no varejo do Rio, era serena e feliz.Em casa, éramos quatro pessoas.Nossos pais, Afrânio e o servidor que vos fala. Entre meu irmão e eu, contudo, surgiam antagonismos irreconciliáveis.
Afrânio era a bondade.Eu era a maldade oculta.
Meu irmão era a brandura, eu era a crueldade...
Nele aparecia a luz da franqueza aberta.
Escondia-se em mim a mentira torpe.
Afrânio era a virtude, eu era o vício contumaz.
Na época em que figuro o principio de meu relato, meu irmão desposara Celina, uma jovem reta e generosa que lhe aguardava o primeiro filhinho.

Quanto a mim, entregue às libações da irresponsabilidade, encontrara na jovem Marcela, tão leviana quanto eu mesmo, uma companheira ideal para o meu clima de aventura.Entretanto, tão logo a vi, aguardando uma criança, sob minha responsabilidade direta, abandonei-a, desapiedado, embora lhe vigiasse os menores movimentos.

Foi assim que, em nublada manhã de junho, observei um automóvel a procurar-lhe o refúgio.Coloquei-me de atalaia, reparando o homem de fronte descoberta que lhe buscava a moradia e reconheci meu próprio mano.

Surpreso e estarrecido, dei curso aos maus sentimentos que geraram, em minhas idéias, a infâmia que passou a dominar-me a cabeça.Encontrara, enfim - concluí malicioso -, a brecha por onde solapar-lhe a reputação, e afastei-me apressado.

Joguei e beberiquei, voltando à noite para o santuário doméstico, onde encontrei aflitiva ocorrência.Afrânio, em se ausentando de nossa pequena loja para depositar num banco a expressiva importância de cinqüenta contos de réis - fruto de nossas economias de dois anos, para a realização do nosso velho plano de casa própria -, perdera a soma aludida, sem conseguir justificar-se.

Ouvi-lhe as alegações inquietantes, simulando preocupação, mas, dando largas aos meus projetos delituosos, arquitetei a mentira que deveria arruiná-lo.Com a minha palavra fácil, teci a calúnia que serviu para impor ao meu irmão irremediável infortúnio, contando a meu pai que o vira, em companhia de mulher menos respeitável, perdendo toda a nossa fortuna numa casa de jogo, e acrescentei que observara o quadro lamentável com os meus próprios olhos.

Minha mãe e Celina, a reduzida distância, sem que eu lhes reparasse a presença, anotaram-me a punhalada verbal, e todos os nossos, dando crédito ao meu verbo delinqüente, passaram da confiança ao menosprezo, dispensando ao acusado o tratamento cruel que lhe desmantelou a existência.

Por seis dias Afrânio, desesperado, procurou debalde o dinheiro.E, ao fim desse tempo, incapaz de resistir ao escárnio de que era vítima, preferiu o suicídio à vergonha, ingerindo o veneno que lhe roubou a vida física.A desgraça penetrou-nos a luta diária.

Inquirida Marcela por meu pai, viemos, porém, a saber, que Afrânio lhe visitara o abrigo por solicitação dela mesma, que se achava em extrema penúria.Nosso espanto, contudo, não ficou aí, porque findos três dias após os funerais, um chofer humilde procurou-nos, discreto, para entregar uma bolsa que trazia os documentos de Afrânio, acompanhados pelos cinqüenta contos, bolsa essa que meu irmão perdera inadvertidamente no carro que o servira.

Minha cunhada, num parto prematuro, faleceu em nossa casa.Minha mãe, prostrada no leito, não mais se levantou e, findos três meses, após a morte dela, ralado por infinito desgosto, meu pai acompanhava-lhe os passos ao cemitério do Caju.Achava-me, então, sozinho.Tinha dinheiro e busquei a vida fácil, mas o remorso passara a residir em minha consciência, atormentando-me o coração.

Alcoolizava-me para esquecer, mas, entontecida a cabeça, passava a ver, junto de mim, a sombra de meus pais e a sombra de Celina, perguntando-me, agoniados:
- Caim, que fizeste de teu irmão?
A loucura que me espreitava dominou-me por fim...

Conduzido ao casarão da Praia Vermelha, ali gastei quanto possuía para, depois de um ano de suplício moral e irremediável tormento físico, abandonar os meus ossos exaustos na terra, em cujo seio, debalde, imploro consolação, porque o sofrimento e a vergonha sitiaram-me a vida, destruindo-me a paz.

Tenho amargado, através de todos os processos imagináveis, as conseqüências do meu crime.Tenho sido um fantasma, desprezado em toda parte, sorvendo o fel e o fogo do arrependimento tardio.

Somente agora, ouvindo as lições do Evangelho, consegui acender em minh'alma leves fagulhas de esperança... E à maneira do mendigo que bate à porta do reconforto e do alívio, encontro presentemente um novo caminho para a reencarnação, que, muito breve, me oferecerá a bênção sagrada do esquecimento.

Entretanto, não sei quando poderei encontrar, de novo, meu pai e minha mãe, meu irmão e minha cunhada, credores em meu destino, para resgatar, diante deles, o debito imenso que contraí.

Por enquanto, serei apenas internado na carne para considerar os problemas que eu mesmo criei, em prejuízo de minha alma...

Brevemente, voltarei ao campo dos homens, mas reaparecerei, entre eles, sem a graça da família a fim de valorizar o santuário doméstico, e renascerei mudo para aprender a falar.

Que Deus nos abençoe.
A. Ferreira
Mensagem recebida em 8 de marçoo de 1956, do livro "Vozes do grande além", p. 43.

O chavão "o mundo é dos espertos" tem prazo de validade. Ainda que muito dure essa "vantagem", não passa do curto período de uma encarnação.

Comentários