A hora da morte: fatalidade?


Vivemos como se não fôssemos morrer, mesmo sabendo que isto acontecerá um dia. Quando? Eis a questão. Não temos como saber.  A grande pergunta que fica é: há um dia específico marcado para a partida? Este momento pode acontecer a qualquer hora? Deus permite o prolongamento de uma existência além do que estava "destinada" à pessoa? 

Tais questões fundamentais estão presentes, de modo esparso, na obra de Chico Xavier, Yvonne Pereira, entre outros. Mas especialmente no livro Obreiros da Vida Eterna, do espírito André Luiz, psicografado por Chico. O livro contém histórias de pessoas que vivenciam o momento do desencarne, se entrelaçam, acompanhadas pelos espíritos responsáveis pelo desprendimento dos laços que nos ligam à carne. 

Em colaboração junto a um grupo socorrista que atua na colônia espiritual Nosso Lar, André Luiz participa das atividades, relacionadas ao momento da morte e adaptação ao plano espiritual,  de pessoas em diferentes situações, mas que merecem uma atenção especial para que este processo ocorra de um modo tão tranquilo quanto possível. Nota-se esse tipo de assistência não acontece com todas as pessoas. Não é porém algo aleatório ou um privilégio que Deus concede a alguns escolhidos. O esforço em  melhorar-se, o Bem praticado em vida, o amor que transforma, são exemplos de conquistas que justificam a assistência dos benfeitores no momento da morte. É o que verificamos no trecho abaixo:

[...] -Meu caro Assistente, todas as mortes se fazem acompanhar de missões auxiliadoras? Cada criatura que parte da Crosta precisa de núcleos de amparo direto?

O amigo sorriu com indulgência, na superiori­dade legitima dos que ensinam sabiamente, e esclareceu:

— Absolutamente. Reencarnações e desencarna­ções, de modo geral, obedecem simplesmente à lei. Há princípios biogenéticos orientando o mundo das formas vivas ao ensejo do renascimento físico, e princípios transformadores que presidem aos fenô­menos da morte, em obediência aos ciclos da ener­gia vital, em todos os setores de manifestação. Nos múltiplos círculos evolutivos, há trabalhadores para a generalidade, segundo sábios desígnios do Eterno; entretanto, assim como existem coopera­dores que se esforçam mais intensamente nas edi­ficações do progresso humano, há missões de or­dem particular para atender-lhes as necessidades.(p. 172)

Em determinado episódio, em atendimento a um cavalheiro (Dimas), que teve sua saúde afetada em função de privações pelo trabalho realizado no Bem, está em pauta  o assunto "tempo de morrer". Coloca André, com frequência, o termo "tempo" e não dia / hora. E fica claro ainda que Dimas teria uma previsão de vida mais longa, mas que sua saúde  foi "gasta" em função do seu grande esforço no trabalho pelo Bem de muitos.  

[...]Compreendia, mais uma vez, que há tempo de morrer, como há tempo de nascer. Dimas alcan­çara o período de renovação e, por isso, seria sub­traído à forma grosseira, de modo a transformar-se para o novo aprendizado. Não fora determinado dia exato.

[...]— Prezado Assistente — indaguei —, releve-me o desejo de saber particularidades do serviço... Poderá, todavia, informar-me se Dimas desencar­nará em ocasião adequada? Viveu ele toda a cota de tempo suscetível de ser aproveitada por seu Espírito na Crosta da Terra? completou a relação de serviços que o trouxera ao renascimento?
— Não — respondeu o interpelado, com fir­meza —, não chegou a aproveitar todo o tempo prefixado. (...) Dimas não conseguiu preencher toda a cota de tempo que lhe era lícito utilizar, em virtude do ambiente de sacrifício que lhe dominou os dias, na existência a termo. Acostumado, desde a infância, à luta sem mimos, desenvolveu o corpo, entre deveres e abne­gações incessantes.(...)Pelas vigílias compulsórias, noi­te a dentro, atenuou-se-lhe a resistência nervosa; pela inevitável irregularidade das refeições, distan­ciou-se da saúde harmoniosa do estômago; pelas perseguições gratuitas de que foi objeto, gastou fosfato excessivamente e, pelos choques reiterados com a dor alheia, que sempre lhe repercutiu amar­gamente no coração, alojou destruidoras vibrações no fígado, criando afecções morais que o incapa­citaram para as funções regeneradoras do sangue. É verdade que não podemos louvar o trabalha­dor que perde qualquer órgão fundamental da vida fisica em atrito com as perturbações que com­panheiros encarnados criam e incentivam para si mesmos; no entanto, faz-se preciso considerar as circunstâncias em jogo. Dimas poderia receber, com naturalidade, semelhantes emissões destruti­vas, mantendo-se na serenidade intangível do le­gítimo apóstolo do Evangelho. Todavia, não se organiza de um dia para outro o anteparo psíquico contra o bombardeio dos raios perturbadores da mente alheia, como não é fácil improvisar cais se­guro ante o oceano em ressaca. Cercado de exi­géncias sentimentais, subalimnentado, maldormido, teve as reiteradas congestões hepáticas converti­das na cirrose hipertráfica, portadora da desinte­gração do corpo.(p. 187).

Outro episódio interessante relata a prorrogação do tempo de vida de uma senhora, em função do impacto emocional que sua morte causaria para a filha grávida, que trazia no ventre um espírito missionário em processo reencarnátório. O choque provocado pela morte de sua mãe poderia provocar o aborto da criança em fase inicial de gestação. Note-se que esta "concessão" foi solicitada pelo neto adotivo de apenas 8 anos, cuja oração atingiu as esferas  espirituais superiores. O espírito reencarnante era uma menina,  que no futuro seria a sua companheira para a tarefa  missionária. Albina, que receberia mais algum tempo de vida na Terra, era evangélica, e as orações dos companheiros a ajudaram no processo da cura provisória que garantirira sua presença por mais algum tempo junto aos seus. 

[...] De fato, não se demorou mais de um dia. E, ao regressar, cientificou-nos da novidade. A irmã Albina fora autorizada a permanecer na Crosta Planetária por mais tempo, razão por que a desencarnação fora adiada “sine die”. Certa rogativa influíra decisivamente no assunto. Entrara em jogo imperiosa exigência que nossa colônia examinara com a devida consideração. Em vista disso, reno­vara-se o programa da missão que trazíamos. Ao invés de auxílio para a liberação, a velha educa­dora receberia forças para se demorar na Crosta. Devíamos procurar-lhe a residência, sem perda de oportunidade, propiciando-lhe ao organismo os pos­síveis recursos magnéticos ao nosso alcance.(p. 255) 

[...] A prece, em qualquer ocasião, melhora, corrige, eleva e santifica. Mas sômente quando estabelece modificação de roteiro, igual à de hoje, é que paira, acima das circunstâncias co­muns, o interesse coletivo. Ainda assim, a medida prevalecerá por reduzido tempo, isto é, apenas en­quanto perdurar a causa que a motiva.(p. 256)

[...] —       Isto mesmo — confirmou o mentor amigo —, a prece de João é importante porque se reveste de profunda significação para o futuro. A meni­na, em processo reencarnacionista, é-lhe abençoada companheira de muitos séculos. Ambos possuem admirável passado de serviço à Crosta Planetária e escolheram nova tarefa com plena consciência do dever a cumprir (p. 267)

Quando refletimos sobre estes episódios e as palavras sábias contidas neste livro, se distancia de nós a visão de que o destino é marcado por uma cronologia rígida, como um calendário impresso na alma. Antes, nos  parece que tempo significa período ou ciclo. A vida não é uma linha, mas uma complexa trama, que tem começo, mas não tem fim. Deus sabe que precisamos tanto do casulo quanto da asa.

Fonte das citações: Obreiros da Vida Eterna - Chico Xavier/ André Luiz

Comentários

Unknown disse…
Realmente, a morte das pessoas queridas, mesmo para aqueles que são espiritas, é uma separação dolorosa. Sabemos, sendo espiritas ou não, que esta é a unica certeza que nos espera, mas nunca estamos preparados para ela.