Cartas e testemunhos de Chico Xavier e o Caso Humberto de Campos


Humberto de Campos foi um dos escritores mais lidos do Brasil no início do século XX. Jornalista e cronista sobrevivia daquilo sua literatura produzia e chegou em uma entrevista a criticar a "concorrência desleal dos escritosres mortos". Eis que algum tempo após seu desencarne, ocorrido em 1934, começa a produzir mensagens e crônicas através do médium Chico Xavier.  A autoria inusitada gerou grande tumulto nos meios acadêmicos e desta forma  ocorreu a interssecção entre os leitores da literatura mediúnica e o público laico, formado especialmente pelos intelectuais da época. Ora, a família de Humberto de Campos entrou na justiça reivindicando direito à renda gerada pela obra do "morto". Fato único no mundo, o processo ganhou repercussão nacional e internacional e causou grande polêmica dentro e fora do movimento espírita Especialmente os espíritas exigiam cada qual uma postura diferente do médium. Artigos em jornais específicos ou na grande imprensa debatiam o fato.  Para evitar maiorres transtornos foi que o pseudônimo " Irmão X" foi adotado a partir de "Lázaro Redivivo", livro cujo nome e conteúdo sugere que Humberto de Campos faz referência a si mersmo como autor redivivo e ciente do que ocorria.
Durante todo este processo,  Chico escreveu inúmras cartas aos seus confrades sobre o assunto,  entre estas destacamos exemplos ilustrativos do testemunho e da da paciência  que lhe foram exigidos. São cartas pessoais de Chico endereçadas à Wantuil de Freitas, na época presidente da Federação Espírita Brasileira. As cartas também nos mostram o quanto Chico Xavier era inteligente, corajoso, ativo. Muito responsável, influente e ainda assim, amoroso. 
Abaixo três exemplos

O que me dizes, referentemente à atitude de certos confrades que descambam para
o terreno das provocações declaradas, é a cópia do que sinto também. É muito triste vermos
companheiros, com tantas expressões de cultura evangélica, arvorarem-se em lutadores e
combatentes sem educação. Logo que houve o agravo da sentença (caso H. Campos),
observando a agressividade de muitos, escrevi mais de cinqüenta cartas privadas e
confidenciais aos amigos da doutrina, com responsabilidade na imprensa espiritista,
rogando a eles me ajudarem, por amor de Jesus, com o silêncio e a prece e não com defesas
precipitadas e, confesso-te, que algumas dessas cartas foram escritas com lágrimas por
mim, tal a desorientação de certos amigos que facilmente se transformam em provocadores
e ironistas, esquecendo os mais comezinhos deveres cristãos. (Apud Schubert, 1991, p. 32).

Como sabes, meu caro Wantuil, nem todas as publicações poderiam ser corretas, no
caso escandaloso, e nem todos os jornalistas me procuraram com boas intenções68. Mas
como sabes também, e conforme assevera o nosso Emmanuel, “na tarefa mediúnica, não
podemos agradar a todos, mas não devemos desagradar a ninguém”. Minha situação era
muito delicada e mesmo assim não faltaram inúmeros confrades que me escreveram cartas
impiedosas e irônicas, quando liam reportagens em desacordo com a verdade dos fatos,
como se eu devesse controlar todos os jornais que escreveram sobre o acontecimento.
Alguns me perguntaram acremente se eu não estava obsediado69 e se já não havia
enlouquecido. [...] Continuemos, meu amigo, em nossos trabalhos, edificados na
consciência tranqüila. (Apud Schubert, 1991, p. 34)

[...] devo dizer-te que, ao sentir-me de novo visitado por esse amigo espiritual, a
que nos referimos aqui, experimentei preocupações e receio. Por causa das mensagens dele
tenho entrado em lutas muito fortes que eu, francamente, não desejaria ver repetidas,
embora saiba que é a Vontade do Senhor que deve ser cumprida e não a nossa. Não fugirei,
de modo algum, aos meus deveres para com a mediunidade, mas rogo a Jesus para que
cessem as lutas de opinião, por vezes tão amargas, não para a minha miserável pessoa que
nada vale, mas para o campo de trabalhos de nossa Consoladora Doutrina e para os meus
amigos da Federação, dedicadíssimos à luta venerável do bem e que não devo estar
perturbando com assuntos desagradáveis. Sei que me compreendes e isso me conforta.
Desse modo, se a Federação lançar o trabalho da fase nova desse companheiro espiritual
que tanto tem se esforçado pela causa do Espiritismo Cristão, reservar-nos-emos quanto à
identificação do autor tão-só para as conversações e entendimentos verbais, evitando-se
qualquer referência escrita. Se alguém, noutras publicações doutrinárias, mais tarde,
escrever alguma coisa nesse sentido, o que não poderemos evitar, correrá por conta dos que
escreverem semelhantes observações em outros círculos, não achas? Quanto a nós, com a
ajuda de Deus, ficaremos em contacto doravante com o “Irmão X”, amando-o pelo que ele
é e pelo que nos traz e não pelo seu nome. Ao enviar-te esta mensagem rogo a Jesus para
que esta nova fase dele seja pacífica. (Apud Schubert, 1991, p. 47)

Colocamos um resumo singelo. Para quem se interessar em saber mais sugerimos a leitura da tese Humberto de Campos: autoria literária e mediunidade e do livro "Testemunhos de Chico Xavier" de Suely Caldas Schubert

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